
A internet se tornou um espaço onde as emoções são amplificadas. Seja por uma estratégia de desinformação, um influenciador buscando engajamento ou uma empresa querendo vender um produto, despertar emoções é uma tática comprovada para atrair atenção e gerar receita. Entre as emoções exploradas, a tristeza tem ganhado um espaço notável, resultando no que muitos chamam de “sadbait”.
O impacto emocional do sadbait
Muito se discute sobre como as redes sociais promovem conteúdos que geram raiva, impulsionando o fenômeno do “ragebait”. No entanto, há outra estratégia silenciosa, mas eficaz: a exploração da tristeza.
Influenciadores compartilham vídeos chorando, histórias melancólicas viralizam e campanhas utilizam imagens e músicas tristes para prender a atenção do público. Um exemplo disso é o gênero “Corecore”, popular no TikTok, que combina clipes sombrios de notícias e filmes com trilhas sonoras depressivas, alcançando milhões de visualizações.

Curiosamente, não são apenas histórias reais que atraem esse engajamento. Imagens geradas por inteligência artificial (IA), como gatos com expressões desoladas acompanhados de músicas tristes, também fazem sucesso. Em 2024, uma versão da música What Was I Made For?, de Billie Eilish, cantada com miados de gato, viralizou a tal ponto que a própria artista cantou a versão no Madison Square Garden.
Como os algoritmos favorecem o sadbait?
As redes sociais são projetadas para maximizar o tempo que os usuários passam nas plataformas. Quanto mais um conteúdo gera interação, mais ele é promovido pelos algoritmos. Postagens que provocam reações emocionais intensas tendem a se espalhar rapidamente.
Assim, influenciadores e marcas exploram esse mecanismo para manter o público engajado. Muitos criadores chegam a produzir vídeos de choro encenado, ensinando outros a fazer o mesmo para viralizar. O sadbait não apenas atrai espectadores, mas também gera comunidades onde as pessoas compartilham suas próprias histórias tristes, fortalecendo ainda mais o ciclo de engajamento.
O sadbait como espaço de conexão
Nem todo conteúdo triste na internet é produzido de forma cínica. Em muitos casos, ele se torna um espaço de expressão e conexão para aqueles que passam por momentos difíceis.

No TikTok, perfis que postam imagens melancólicas acompanhadas de frases motivacionais acumulam milhões de visualizações. Muitos deixam mensagens como: “As DMs estão abertas se você precisar conversar”. Nos comentários, é comum encontrar histórias pessoais de perda, solidão e superação.
O paradoxo do consumo de tristeza
Se as pessoas dizem que não querem se sentir tristes, por que consomem esse tipo de conteúdo? Parte da resposta está no fato de que a tristeza pode ser catártica. Ver um vídeo triste pode oferecer um espaço para refletir sobre próprias emoções e experiências, além de criar uma sensação de pertencimento.
Também há o fator da ironia. Muitas postagens tristes são consumidas de maneira cínica, compartilhadas para rir ou ridicularizar, mas, para os algoritmos, engajamento é engajamento, seja ele sincero ou sarcástico.
Considerações finais
O sadbait é um reflexo da forma como a internet amplifica nossas emoções. Ele pode ser um produto da economia do engajamento, mas também revela o desejo humano de se conectar, compartilhar e encontrar significado nas emoções.
A questão não é apenas por que consumimos conteúdo triste, mas o que isso diz sobre nossa relação com a própria tristeza na era digital. Afinal, como tudo na internet, nós não apenas assistimos ao conteúdo — nós o moldamos.
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